quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O meu pai, Neto António

Neto António, Mateus António (o Crise) 

Nomes pelos quais se encontrava registado e fazia questão de os tornar conhecido.

Nasceu no Alto Dande – Caxito, aos 9 de Agosto de 1929 e faleceu aos 6 de Fevereiro de 2012 por doença sem exaustivo e isento esclarecimento governamental, na aldeia da Funda.

Que importa agora?

Seus pais foram António Mateus e Joana Matoso de Andrade, também naturais de Caxito – Ex-Vila Oledo, descendentes de Matoso de Andrade e Domingas de Sá Menezes Paim, de entre outros.

Gerou filhos com Ana Fernandes da Silva, Sara de Nazaré Pombal, Preciosa de Carvalho, Ana Campos, Cecília João Francisco e Antonica Miguel José.

Foi irmão de Raimundo Traça, Abel Traça, Carmina Traça, Domingas Gonçalves Paim, António Mateus, Antonica Gonçalves, . O ti Branco, foi outro dos seus irmãos.

Dono e senhor de uma vontade hercúlea e princípios sólidos, herdam a sua passagem pela terra, seus filhos Laurindo Neto, Felipa Neto, Maria da Conceição Neto – A Cafifinha -, Georgina Neto – a Mena, João Neto – O John -, Horácio Neto, Esperança Neto, Felícia Neto, António Neto – o Tony -, Palucha Neto, Dany Neto, Noémia Neto, Noé Campos Neto, Matoso Neto – o Totó -, Gigi Neto, Abraão Neto - o Artur -, que preencheram a sua descendência através dos netos e bisnetos de um clã ainda em formação.

Carlos de António Neto e Paixão Neto António, são filhos que não assistiram ao seu passamento por partirem prematuramente.

De entre os netos, Ana Fernandes da Silva – A Nany –, Flávio Mauro, Ana Pestana – A Kalu -, São Neto, Jandira Neto – Morena -, José Pestana – o Joy -, Danilson Santana, Tânia Neto, Mateus Neto – o Bruno -, Mauro José Neto – o Barão -, Kelson Veríssimo, Priscila Veríssimo, Hélio Horácio Ferreira Neto, Daisy Horácio Ferreira Neto, são pétalas da mesma planta.

Apesar da prudência e da sensatez com que impregnou a sua vida, foi bastante agredido, principalmente por aqueles que, esquecidos e embriagados pela ganância, não fizeram do seu dia-a-dia uma profissão de harmonia, confiança e tranquilidade, antes, optando pelos maus tratos e torturas físicas e psicológicas.

Neto António, o nosso pai, nunca foi espião de Mobutu, acusação que lhe foi convenientemente infundida pelas autoridades auto-investidas.

Torturado na Cadeia de S. Paulo de Luanda e na Cadeia da Reclusão na Boavista, os centros de tortura de eleição da famigerada DISA – a polícia política angolana -, não teve como não recordar-se de iguais torturas no corpo e na alma impingidas em 1961 pela PIDE, a polícia política portuguesa na qual se inspirou a DISA.

Contudo, o nosso pai, o vosso avó e bisavó, não conheceu a pretendida humilhação, porque infelizmente para os seus algozes, esta não dependia apenas dos requintados e brutais golpes de malvadez, mas, muito mais, da fortaleza do seu carácter.

O finado suportou estoicamente a violência, a injustiça e a ingratidão dos homens, tendo-se retirado nos últimos anos para a aldeia da Funda, aonde foi expor-se por ignorância aos nocivos efeitos de potentes ondas de radiofrequência que garantem o serviço e o negócio das telecomunicações.

A família de Neto António ou António Mateus, não está a espera de conclusões fabricadas em laboratórios de conveniência e subserviência: Temos consciência da nossa impotência ante o conluio político e económico que provocou o seu desaparecimento prematuro.

O finado pautou-se e divulgou a sua fortaleza de carácter e o seu amor a família! Viu-a desmembrada por forças dos acontecimentos políticos de 1961, envolvendo os invasores portugueses na sua saga pela manutenção do colonialismo, mas aguardou a oportunidade do seu reencontro.

Com os Acordos de Alvor em 15 de Janeiro de 1975, em que os invasores portugueses reconheciam a independência de Angola através das forças políticas e militares em presença, nomeadamente a FNLA, o MPLA e a UNITA, o finado conheceu a oportunidade para o almejado reencontro familiar! Obtendo daquelas forças militares a devida autorização, partiu com a sua viatura de compra e uso pessoal para a ex-República do Zaire com a finalidade de resgatar a sua família desmembrada em 1961 por razões políticas.

No seu regresso à pátria encontrou forjados e em execução os instrumentos de subjugação que ainda hoje perduram! Sem julgamento, foi acusado de espião do ex-presidente Mobutu, tido como apoiante da FNLA, preso e torturado; foi vilipendiado de tal forma que as marcas só desapareceram por autoimposição na consciência dos seus verdugos. Os seus herdeiros jamais esquecerão!

O finado nunca pertenceu a algum movimento ou partido político, mesmo até porque sempre vaticinou a desdita a que estaria votado o povo angolano! Não se inscreveu na FNLA. Enquanto homem trabalhador, pertenceu ao Ministério da Agricultura, quando este fazia parte dos acordos de partilha do espólio em que se transformou angola, partilha essa, usufruída entre os chamados movimentos de libertação.


Tendo sido funcionário do Instituto do Café de Angola (ICA/ENCAFÉ) seria naturalmente “propriedade” da FNLA tal como outros angolanos o são hoje em relação ao MPLA por razões de sobrevivência. A agricultura tivera sido oferecida a FNLA sem que nenhuma opinião ou voto na matéria lhe tivesse sido solicitada.


O nosso pai, o vosso avó, o bisavó de todos os bisnetos, era radiante à sua chegada! Espelhava a concórdia e a harmonia! Recordem-se os seus mimos:

Neto, estou!

O cafezinho e o bacio para expetoração;

O Ti Naindo ou o número Um;

A Tia Donana;

O vigarista e a grande ronha!

Por fim, antes de expirar, a lembrança dos horrores:


O Pau-ferro, o Pai-dos-picas, o Veloso, o Jaime Madaleno, nomes que já não designam os seus algozes mas os representantes de um certo mal na terra.

Foi obrigado a conviver com essa nódoa na alma até auferir como reforma de cerca de sessenta anos de trabalho, o equivalente a setenta e cinco dólares por mês em 2011.

Morreu o Neto António! Faleceu o Crise, como era conhecido pelos do seu tempo de juventude!

Pereceu aquele que poderá determinar o futuro da nossa existência como membros de um mesmo clã: Fernandes da Silva ou Campos, que importa? Pertencemos ao clã Neto António, somos todos irmãos e isso é o que mais interessa.

Descansa em paz, jamais serás esquecido!

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